Análise dos recursos materiais para reanimação neonatal em maternidades que prestam assistência ao parto pelo SUS nos municípios de Anápolis e Goiânia - GO

Abstract

As adaptações do recém-nascido ao ambiente extrauterino tendem a ocorrer de forma fisiológica, todavia cerca de 10 a 15% dos neonatos necessitam de assistência especializada para ultrapassarem, com êxito, esse processo de transição. A mortalidade neonatal no Brasil ainda apresenta valores elevados, e grande parte dessas mortes ocorrem devido a falhas assistenciais, seja por questões estruturais, materiais, técnicas ou humanas. Considerando essa realidade, percebe-se a extrema relevância da análise da presença de materiais e equipamentos adequados para a reanimação neonatal na sala de parto de maternidades. A partir da compreensão da gravidade dessa realidade, este trabalho objetiva identificar se as maternidades que prestam assistência ao parto pelo Sistema Único de Saúde nos municípios de Anápolis e Goiânia dispõem dos materiais e equipamentos recomendados pelas atuais Diretrizes do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria. Esse é um estudo descritivo, transversal, por inquérito. Para levantamento dos dados, os pesquisadores aplicaram um questionário estruturado ao responsável (médico ou enfermeiro) pelo setor de Obstetrícia no momento da coleta de dados. Esse questionário preserva o anonimato do profissional e da instituição. Os resultados foram discutidos a partir de artigos científicos encontrados em sites de busca como Periódico CAPES, Scielo, PubMed e através da própria diretriz supracitada. Nesta pesquisa foram abordadas, no total, 5 maternidades que se dispuseram a assinar a Declaração de Coparticipação em um universo de 8 instituições cadastradas como prestadoras de assistência ao parto no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES) do DATA-SUS, nos municípios de Anápolis e Goiânia. Os dados obtidos apontam que essas maternidades possuem em média 79,8% do material considerado necessário pelas recomendações do Programa de Reanimação Neonatal da SBP de 2016, sendo que as maternidades 1, 2, 3, 4 e 5 possuem respectivamente 89%, 76,34%, 80,78%, 75,86% e 76,97% dos materiais descritos no questionário. No que se refere aos resultados apresentados, as maternidades pesquisadas possuem realidades diferentes quanto à presença de materiais recomendados. Apesar da média de materiais encontrados nas maternidades parecer, à primeira vista, razoável, girando em torno de 80% do material recomendado, ao se analisar caso a caso os materiais ausentes, pudemos constatar a falta de materiais simples e essenciais para o atendimento com segurança de qualquer recém-nascido em sala de parto. Como exemplo da carência desses recursos podemos citar a ausência de aspirador a vácuo para aspiração das vias aéreas em uma maternidade, de cateter umbilical em outra, de clampeadores de cordão umbilical em duas delas, ou até mesmo de termômetros para controle da temperatura ambiente em todas as maternidades avaliadas. Ao se fazer uma análise detalhada de cada grupo de materiais pesquisados pudemos perceber que de todos os grupos, o que se encontra com maior desfalque de materiais recomendados é o grupo dos instrumentos para garantir a manutenção da temperatura corporal dos recém-nascidos. A ausência de desses materiais prejudicam a assistência geral ao recém-nato em sala de parto, visto que, a temperatura corporal do RN está altamente relacionada com sua morbimortalidade, em todas as idades gestacionais e, por isso, tem sido considerada indicador de qualidade de atendimento. Os materiais ausentes são tão essenciais na assistência ao nascimento de recém-nascidos saudáveis quanto daqueles com complicações, podendo ser um fator determinante na sobrevivência dessas crianças. A partir dos dados coletados, procura-se provocar uma reflexão por parte de maternidades, gestores, comunidade científica e população em geral, sobre a atual condição da disponibilidade de recursos materiais para a reanimação neonatal nesses municípios, visando estimular, se necessárias, possíveis melhorias na assistência desses recém-nascidos.